sábado, 22 de maio de 2010

O Que Sobra no Silêncio

A única coisa
que sobra no silêncio da noite
É o tic-tac do relógio
Tudo pára, tudo dorme
exceto o tic-tac do relógio

E lá da parede
esse círculo inanimado
Cheio de números e ponteiros
Audaciosamente cronometra
Minha vida

Quando eu o encaro
Ele não se intimida
E parece estar sempre
Me cobrando algo
Posso até ouvir ele dizer

-Olha, quando você veio ao mundo
fui eu que anunciei sua chegada
e quando você se for
estarei aqui para prestar minhas homenagens
e dizer a todos que você se foi

Indignado eu respondo:
-Quem diabos lhe permitiu contar meus dias
Porque acha que tem o direito
de definir à que horas tudo acontece?!
Por acaso você pensa ser Deus relógio?

Não, não. Responde o relógio.
Foram vocês humanos que me criaram
E ironicamente, desde que existo
Sou eu que mando em vocês.
Engraçado não?

Quando ouço isso
de imediato jogo o relógio no chão
Fazendo-o em mil pedaços
E vendo os pedaços
Deixo escapar um sorriso cínico
de satisfação

Logo após o acontecido
Acordo com um bip incessante
Alguém grita: -Acorda!
Já é hora de você levantar!!

Ao que eu respondo calmamente
Já vou mãe.

Um comentário:

  1. Sensacional! Eu li umas 10 vezes e pensei: Caraca, pq eu não pensei nisso? Pq eu não consegui ter a inspiração para escrever isso? Master mesmo!

    Sua frase de destaque no blog: Se tudo aquilo que faz sentido já não te interessa, bem-vindo!!!

    Eu então tenho que ficar por aqui! Me lembrei desta frase de Clarice:

    "Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não! Quero uma verdade inventada"

    Clarice Lispector

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